Candidíase é a infecção causada por Candida spp, mais frequentemente C. albicans; ela manifesta-se por lesões mucocutâneas, fungemia e, algumas vezes, infecção focal de múltiplos locais.
Espécies de Candida são organismos comensais que habitam o trato gastrointestinal (GI) e algumas vezes a pele. Ao contrário de outras micoses sistêmicas, a candidíase resulta de organismos endógenos.
A maioria das infecções é provocada por C. albicans; entretanto, C. glabrata (anteriormente Torulopsis glabrata) e outras espécies não albicans estão cada vez mais envolvidas na fungemia, infecção do trato urinário e, ocasionalmente, outra doença focal. C. glabrata costuma ser menos sensível ao fluconazol do que as outras espécies; C. krusei é inerentemente resistente ao fluconazol: a frequência da resistência ao voriconazol e à anfotericina varia. C. krusei é mais frequentemente suscetível a equinocandinas. C. auris é uma espécie emergente e multirresistente que causou surtos recentes em hospitais e é difícil de identificar e tratar.
Candida spp são responsáveis por cerca de 80% das principais infecções fúngicas sistêmicas e são a causa mais comum de infecções fúngicas em pacientes imunocomprometidos. A candidíase envolvendo a boca e o esôfago é uma infecção oportunista definidora de AIDS. Como a resistência e transmissão de C. auris em estabelecimentos de saúde tornaram-se uma preocupação, foram instituídas precauções especiais de controle de infecções para pacientes colonizados ou infectados por C. auris.
Candidíase do esófago é uma infecção oportunista definidora na aids. Embora a candidíase mucocutânea esteja presente com frequência em pacientes infectados pelo HIV a disseminação hematogênica não é comum, a menos que outros fatores de risco específicos estejam presentes.
Candidíase oral
Candidíase disseminada
Pacientes neutropênicos (p. ex., aqueles que recebem quimioterapia para câncer) estão sob risco aumentado de desenvolvimento de candidíase disseminada com risco à vida.
Candidemia pode ocorrer em pacientes neutropênicos que estão hospitalizados por tempo prolongado. Essas infecções de corrente sanguínea são, muitas vezes, relacionadas a:
- Cateteres venosos centrais
- Cirurgia de grande porte
- Terapia antibacteriana de amplo espectro
- Hiperalimentação IV
Cateteres IV e de trato GI são as vias de entrada habituais.
A candidemia muitas vezes prolonga a hospitalização e aumenta a mortalidade em doenças concomitantes. Candidemia pode ocorrer com outras formas da candidíase invasiva, como endocardite ou meningite, e também envolvimento focal da pele, tecido subcutâneo, ossos, articulações, fígado, baço, rins, olhos e outros tecidos. A endocardite é comumente relacionada com o uso de drogas IV prótese valvar, ou trauma intravascular induzido por retirada de cateteres IV.
Todas as formas de candidíase disseminada devem ser consideradas graves, progressivas e potencialmente fatais.
Sinais e sintomas
Candidíase esofágica frequentemente se manifesta por disfagia.
A candidemia geralmente causa febre, mas nenhum sintoma é específico. Algumas vezes, a síndrome evolui como sepsia bacteriana, com um curso fulminante que pode incluir choque, oligúria, insuficiência renal e coagulação intravascular disseminada.
A endoftalmite por cândida tem início com lesões brancas de retina primeiramente assintomáticas, mas pode progredir com opacificação do vítreo e provocar cicatriz potencialmente irreversível e cegueira. Em pacientes neutropênicos, hemorragia retiniana também ocorre algumas vezes, mas uma infecção real do olho é rara.
Lesões cutâneas papulo nodulares podem se desenvolver, em especial em pacientes neutropênicos, nos quais isso indica alta prevalência de disseminação hematogênica para outros órgãos. Os sintomas de outras infecções focais ou invasivas dependem do órgão envolvido.
Diagnóstico
- Histopatologia e culturas fúngicas
- Hemoculturas
- Testes séricos de betaglicana
- Painel T2Candida
Como Candida spp são comensais, sua cultura de escarros, boca, vagina, urina, fezes ou pele não necessariamente significa infecção invasiva e progressiva.
Uma lesão clínica característica também deve estar presente, evidência histológica de invasão tecidual (p. ex., leveduras, pseudo-hifas e/ou hifas nos espécimes teciduais) deve ser documentada e outras etiologias devem ser excluídas. Culturas positivas de espécimes coletados de locais normalmente estéreis, como sangue, líquor, pericárdio, líquido pericárdico ou amostra tecidual obtida por biopsia são evidências definitivas de que terapia sistêmica é necessária.
Betaglicana sérica costuma ser positiva nos pacientes com candidíase invasiva; por outro lado, um resultado negativo indica baixa probabilidade de infecção sistêmica.
O painel T2Candida é um ensaio por ressonância magnética que detecta diretamente espécies de Candida em amostras de sangue total em 3 a 5 horas. É altamente sensível e tem excelente valor preditivo negativo.
Outros testes de diagnóstico molecular também estão disponíveis, como a espectrometria de massa ionização e dessorção a laser assistida por matriz:tempo de voo (MALDI-TOF) e testes baseados na reação em cadeia da polimerase (PCR).
Recomenda-se exame oftalmológico a fim de verificar se há endoftalmite para todos os pacientes com candidemia.
Referência sobre diagnóstico
1. Zervou FN, Zacharioudakis IM, Kurpewski J, Mylonakis E: T2 magnetic resonance for fungal diagnosis. Methods Mol Biol 1508:305–319, 2017. doi: 10.1007/978-1-4939-6515-1_18. Traduzido por Momento Saúde
Tratamento
Candidíase invasiva
Em pacientes com candidíase invasiva, condições predispostas, como neutropenia, imunossupressão, uso de antibacterianos de amplo espectro, hiper alimentação e cateteres intravenosos, devem ser revertidas ou, se possível, controladas.
Em pacientes sem neutropenia, os cateteres IV devem ser removidos.
Quando a equinocandina for indicada [se os pacientes estão moderada ou criticamente enfermos [(a maioria dos pacientes neutropênicos) ou se houver suspeita de C. glabrata, C. auris, ou C. krusei], um dos seguintes fármacos pode ser usado:
- Caspofungina,
- Micafungina,
- Anidulafungina,
- Se o fluconazol for indicado (se os pacientes estiverem clinicamente estáveis ou se houver suspeita de C. albicans ou C. parapsilosis).
Se há intolerância, disponibilidade limitada ou resistência a outros antifúngicos, pode-se usar uma formulação lipídica de anfotericina B .
O tratamento da candidíase é mantido por 14 dias após a última hemocultura negativa.
Candidíase esofágica
Trata-se candidíase esofágica com um dos seguintes:
- Fluconazol
- Itraconazole
Se esses fármacos são ineficazes ou se a infecção é grave, pode-se usar um dos seguintes:
- Voriconazol
- Posaconazol
O tratamento da candidíase esofágica é mantido por 14 a 21 dias.
Referência sobre o tratamento
1. Pappas PG, Kauffman CA, Andes DR, et al: Clinical practice guideline for the management of candidiasis: 2016 update by the Infectious Diseases Society of America. Clin Infect Dis 62(4):e1–e50, 2016. doi: 10.1093/cid/civ933. Traduzido por Momento Saúde